terça-feira, 1 de outubro de 2019

A Depressão de Spurgeon



A depressão de Spurgeon: Esperança realista em meio à angústia
Autor: Zack Eswine
Editora: Fiel
Ano: 2014 (original)/ 2015 (Brasil)

Um livro para não ser lido na depressão


Zack Eswine é um pastor que decidiu escrever a respeito da depressão que o grande pregador Charles Spurgeon passou. Os textos extraídos da vida e obra de Spurgeon são mesmo riquíssimas fontes de inspiração e identificação para aqueles que sofrem do mesmo mal. 
"A mente pode desabar muito mais profundamente do que o corpo, pois nela há poços sem fundo. A carne pode suportar um certo número de feridas e não mais, mas a alma pode sangrar de dez mil maneiras, e morrer repetidas vezes a cada hora." (Charles Spurgeon - p. 37)
Já os comentários do pastor Zack, ao meu ver, devem ser lidos com critério e uma estrutura psicológica bem firme. 
"Neste mundo caído, a tristeza é um ato de sanidade e nossas lágrimas, o testemunho daquilo que é são." (p. 44)
O autor procura explicar o que é a depressão, diferenciando a doença física da espiritual; mostra algumas maneiras de lidar com o depressivo, inclusive o que não fazer ou dizer a ele; e formas de autoajuda para lidar diariamente com a depressão.
A linguagem é rebuscada, como se o autor estivesse mais preocupado em fazer da dor, poesia, do que realmente trazer luz aos afligidos da alma.
O melhor da obra, sem dúvida, são os discursos diretos de Charles Spurgeon, trechos não modificados por um autor que, provavelmente, também passava por momentos difíceis enquanto escrevia, transmitindo mais melancolia do que esperança a um público de potenciais depressivos.


PING-PONG

Como o livro me achou: aqui posso dizer mais sobre "como eu achei o livro". Eu estava interessada em ler sobre o tema, por ver a minha volta tantos que pareciam presos às garras da tal depressão. Acredito que todo o inimigo, para ser vencido, deve ser, antes de tudo, conhecido. Seja para mim ou para os outros, conhecer um tão grande mal, que virou até o Mal do Século, se tornou mais do que uma opção: é uma obrigação.

Discutindo o título: o autor quis usar como personagem central de sua discussão o famoso Spurgeon, o que trouxe à obra um tema de suma importância e um exemplo de pessoa conhecida no meio cristão. O subtítulo sugere que as explicações e aplicações do livro seriam mais realistas, porém, não creio que essa tenha sido uma conquista que o autor alcançou.

Um Pró: a compilação de textos que Charles escreveu ou disse a respeito do tema. É possível ver que o autor fez um estudo minucioso através da vida e obra de Spurgeon para selecionar textos tão cheios de vida e dor. 
 "A depressão é como a escuridão que nos cobre aonde quer que vamos. 'Quando as pessoas estão no escuro, elas têm medo de qualquer coisa, de tudo" (p. 49)
Um Contra: Zack parece querer criar uma empatia tão grande com o depressivo que quase fala: "vamos pular juntos da ponte!". Ter um autor que também passou por esse tão terrível vale e saiu vitorioso é excelente, mas só quando seus argumentos e conclusões levam à liberdade e à esperança, não quando parece defender que, nos dias de hoje, o mais natural e "são" é que todos fiquem mesmo depressivos.

Um diferencial:a estrutura do livro é boa. Um texto dividido em três partes, definindo a depressão, modos de ajudar um depressivo, e modos de um depressivo se ajudar. Ao fim de cada capítulo, encontramos um resumo ou um questionamento, o que nos leva a uma melhor compreensão do texto. A mensagem foi mesmo clara, mas não posso afirmar que esta tenha sido positiva e edificante.

Uma Lição: tem um capítulo sobre como não ajudar um depressivo que achei interessante.
"O que nos faz ministrar um cuidado impaciente em relação à depressão?
1. Julgamos os outros de acordo com nossas circunstâncias e não de acordo com as deles.
2. Ainda achamos que frases batidas e desgastadas ou a elevação de voz podem curar feridas profundas.
3. Tentamos controlar aquilo que deveria ser em vez de nos rendermos ao que realmente é.
4. Resistimos a ser humildes acerca de nossa falta de experiência." (p. 104)

 Em suma, este é um livro que busca soluções para a depressão através de sua compreensão, e usa a forma como Spurgeon expôs a doença e a tratou. Embora seja um livro proveitoso para pesquisa, não o recomendaria a alguém que, porventura, estivesse passando por esse estado. A mensagem parece ser que é normal e aceitável que vivamos nossa vida em profunda tristeza, já que o mundo é mesmo mau, e que o suicídio, embora não seja a melhor solução, é um ato compreensível. Quem daria um conselho desse a um depressivo? Da mesma forma, sugiro que também não o presenteie com tal obra.